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A tal da rúcula na pizza


E no meio desta pandemia, o mundo parece ter descoberto a cozinha como um espaço útil e até terapêutico. Tinha gente que se “pá” nem sabia direito onde ficavam copos e talheres ou até mesmo que tinha um forno elétrico. Descobriu até o cemitério que havia no armário com mixers, processadores, torradeiras elétricas, aparelhos do George Foreman enterrados, coisas que a gente comprou, mas nunca soube bem como usar ou ficava com canseira de ter que lavar depois.


Enfim, mas o lance é outro e já vou puxar o gancho. Eu sou da cozinha. Sei cozinhar bem, entendo bem dos “paranauês” e a família passa muito bem comigo. Manjo tanto que normalmente quando vejo umas esquisitices aparecerem já fico bem esquisito também e nesta pandemia a batata assou (que trocadilho horrível... desculpem)

Mas é que não dá para engolir que uma das artes mais simples e humana de toda nossa existência tenha que ser reduzida à exigência de modinhas de todo tipo e charlatanices gerais.   


A questão que me preocupa com os modismos na cozinha é a obrigação. Afinal, tudo que é obrigatório tende a ser chato (e engorda...). Não muito tempo atrás, na época em que a gente tinha o costume de se reunir em grupo, antes do corona, enquanto preparava coxinhas de frango para um churrasco eu conversava com um amigo que me relatava a alergia que teve ao comer camarão.


Teve reação, inchou tudo, mas salientou no final que se pudesse comia todo camarão que pudesse. Daí eu disse que não gostava de camarão. De repente, meio que o mundo parou e eu virei o centro das atenções. Peguei um pouco mais de molho de soja (olha a moda aí!!) para terminar de temperar e continuei: "Gente, eu moro no interior de São Paulo. Camarão para mim nunca foi uma opção no cardápio. De certa forma, então, é normal que eu não tenha paladar para ele ou para mexilhões e ovas de tainha salgadas".


Não é? O problema acontece quando a gente realmente acredita que precisa pagar quase R$ 90 por um quilo de camarão limpo para "abafar" em um jantar. 

E eu tenho mesmo que achar que picanha é a única carne que presta para um churrasco? Mas gente... Eu gosto muito da fraldinha e de panceta e ultimamente tenho arrancado suspiros com estas peças, bem chegadas no alho e sal. E não tenho que pagar R$ 160 em um único exemplar maturado e com grife. 


Dos povos todos, o que mais admiro na cozinha são os franceses. Gosto porque são tradicionais e torcem o nariz para tudo que é novidade midiática. Tanto é assim que pagam um alto preço ao não aparecerem com tanta frequência nas listas dos melhores restaurantes do mundo. Eles sabem que estas listas, na verdade, são modismos coordenados por grupos que só decidem quem será o melhor e quem será o pior. Decidem e pronto e aí o mundo passa a comer jambu da Amazônia como louco e a “espumar” tudo quanto é tipo de vegetal para dar um toque científico na arte que as mães e avós tanto trabalharam para simplificar, com amor e carinho na missão de alimentar a família.


Sabores da Amazônia são bons, mas não servem para serem comidos todos os dias. Cansam. 


O que vale, então? Vale cozinhar com o coração e respeitar o gosto da família e dos amigos. Não copie e nem se deixe levar pelo que dizem os guias. Cozinha boa é cozinha que te alimenta. Não é verdade que um pão como ovo frito pode ser tão saboroso quanto um risoto de alcachofra e amêndoas? Então...


E o que tudo isso tem a ver com a rúcula lá do título desta crônica? Eu acho muito brega colocar rúcula na pizza! Pronto, falei!  

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